quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

2016 Revelados: Os segredos fora da caixa de papelão. Proposta propositiva e instalação de Alice Monsell, apresentada na exposição coletiva Transgressões da Pandora do evento SIGAM V, na galeria A SALA do Centro de Artes da UFPel.


http://wp.ufpel.edu.br/artenaescola/v-sigam/



Produção vinculada ao projeto de pesquisa Sobras do Cotidiano e da Arte (8171 UFPel) e ao Grupo de pesquisa DeslOCC_Deslocamentos, observâncias e cartografias contemporâneas (CNPq/UFPel ).


* O quadro está em homenagem a Francesca Woodman e cita uma de suas fotografias. A figura feminina no primeiro plano cita a personagem de um filme de James Bond que foi morta por meio de pintar seu corpo, cortando sua respiração com tinta dourada. O quadro, pintado no final dos anos 80,  foi roubado da minha casa e encontrado no lixo por uma pessoa e  ficou pendurado na parede de sua casa em Pelotas por anos. Cerca de 2015, o quadro foi devolvido a mim por uma ex-orientanda que reconheceu meu nome na pintura, na casa de sua tia. Assim, o quadro se transformou em algo que "sobra do cotidiano".  

Planejamento em grupo da montagem da exposição coletiva TRANSGRESSÕES DE PANDORA



 durante a montagem...

Alice Monsell. 
Título
 “Revelados: os segredos da Pandora fora da caixa de papelão.”
Instalação participativa 
Técnica: Disposição de 21 bolsas de cores, materiais e dimensões variadas completamente abertas, fixadas com pregos de aço na parede; cadeira e mesa de madeira, Porta-lápis com compartimentos contendo lápis e canetas, clipes, prendedores, borracha, papéis, uma caneta posca cor de rosa, espelho 5 cm x 5 cm, batom, colar metálico cor de bronze, desenho em papel manteiga com estêncil de grafite, escritura em caneta posca cor de rosa (sobre a mesa). Partitura/ instrução sobre a proposta de escrever o segredo em papel sulfite velho A4 dobrado e com tinta acrílica (na mesa). Uma pintura da minha autoria: “Vivendo numa caixa de papelão: Francesca Woodman”, tinta acrílica sobre tela, 50 cm x 70 cm, 1987. OBS: O quadro de 1987, que foi roubado muitos anos atrás que homenageia a artista, feminista e fotógrafa Francesca Woodman.
A pintura em tinta acrílica, que havia desaparecido em 1997 da minha casa, talvez roubada, também foi resgatada do lixo e devolvida a mim por uma orientanda do Bacharelado em Artes do Centro de Artes da UFPel em 2014. Era de uma série de pinturas sobre pessoas de rua que moram em caixas de papelão. Então o titulo original da instalação com configuração parietal estava relacionado com este quadro. 

Etapas da montagem de "Revelados: Os segredos da Pandora fora da caixa de papelão"




Abertura As Transgressões de Pandora na galeria A SALA-Galeria do Centro de Artes da UFPel











 Instalação propositiva de Alice Monsell



Em meu trabalho, resgato materiais de contexto, privado e público, que poderiam se tornar lixo, estas sobras da minha casa, bolsas velhas, a maioria dos quais não utilizo e outros objetos se transformam em materiais reaproveitados na obra. A pintura em tinta acrílica que mostra a figura apropriada de um autorretrado de Francesca Woodman e que havia desaparecido em 1997 da minha casa, talvez roubada, também foi resgatada do lixo e devolvida a mim por uma orientanda do Bacharelado em Artes do Centro de Artes da UFPel em 2014.
O segredo é algo que sobra na memória, mas não nos livramos tão facilmente dele como os objetos que se acumulam em casa que não gostamos mais e que passamos adiante,  gastamos e jogamos fora,  produzindo o mundo empilhado de lixo doméstico.  
O segredo, quando se solidifica na memória, em silêncio, corrompe e corrói o sujeito ou até, uma nação. Neste trabalho, ao fornecer um contexto e dispositivos que instigam o compartilhamento do segredo particular, mesmo para um estranho, o segredo se torna público, que desencadeia um processo de desconstruir sua capacidade de limitar a potência de uma pessoa pela incapacidade de denunciar, relatar, delatar, confessar, contar o que deseja e sabe que precisa contar, mas tem medo.
Escrevo nas folhas e reescrevo minhas, como um livro sendo lido, desfolhado e reescrito, ao virar cada página, desdobro meu sujeito, rasgo paredes feitas de papelão e desloco o sujeito que se transforma em outro, impulsionando o corpo político e social em movimento. 

Não há nada para temer, bota o temer fora. A caixa da Pandora está aberta e ela está pronta para agir e vai contar todos os segredos, minhas, suas, nossas.