"Almoço na Grama:
Ação fotográfica Coletiva e Caminhada"
Oficina realizada a partir de uma caminhada no bairro Porto de Pelotas até um sítio residual pitoresco cheio de lixo
Oficina proposta por Alice Monsell com o auxílio de Rogger Bandeira (bolsista PIBIC/CNPq) e Mara Nunes (orientando Mestrado em Artes Visuais da UFPel) e demais colaboradores
A Oficina/Ação foi realizada durante a Semana Acadêmica do Curso de Artes Visuais-Bacharelado do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas, RS, Brasil.
Depois da Oficina, foi editado o vídeo de fotos videografadas por Alice Monsell e Rogger Bandeira (bolsista PICIC/UFPel), o qual foi apresentado no Centro de Artes, andar 2 no mesmo dia à tarde (ver em: https://www.youtube.com/watch?v=ARhzzZu6QWs ). A proposta fotográfica/tableau tem referência em procedimentos de Jeff Wall e Cindy Sherman.
Participantes da Oficina Almoço na Grama:
Alice Monsell (coorda.), Mara Nunes, Vivian Parastchuk, Rogger Bandeira (Bolsista PIBIC/UFPel 2019-2020), Bella Kacelnikas, Paola Boldt, San Pedro, Rodrigo Gomes, Rafael de Souza, Elisa Montagna Aguiar, Mirianne Monquelat, Dara Blois
Esta ação é vinculada ao
projeto de extensão do Centro de Artes da UFPel
Contextos de atuação do Artista (584 UFPel)
e do projeto de pesquisa
Sobras do Cotidiano e Contextos dx Artista em Deslocamento (UFPel) do grupo de pesquisa DeslOCC/(CNPq/UFPel).
Le Dejeuner sur L'herbe. Édouard Manet. 1862-1863. óleo sobre tela. 208 x 264.5
Em português Almoço na relva ou Piquenique no bosque. acervo Museu D'Orsay, Paris, França.
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O que motivou a escolha deste local que materializa o que imagino quando penso em "bosque" é o trecho do hino nacional brasileiro em contraste irônico com a realidade ambiental:
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores
"nossos bosques têm mais vida"
"nossa vida" no teu seio "mais amores"
E apesar das flores deste campo serem detritos urbanos, esse bosque realmente é um dos locais mais bonitos em Pelotas, sua luz impercebida.
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MAKING OF:
Registros da caminhada até o bosque


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Rogger Bandeira, bolsista PIBIC CNPq. |
A ação desenenrolou de modo horizontal. Usamos uma impressão fotográfica da pintura de Manet e os grupos foram se organizando e realizamos registros com minha máquina Nikon reflex digital a partir de dois ângulos, com os participantes sentados primeiro em um local, dentro do bosque, e depois, mudamos todos os apetrechos para outro ponto de vista, para pegar a luz vindo do outro lado do bosque.
Um vídeo produzido a partir da oficina Almoço na Grama pode ser visto em: https://www.youtube.com/watch?v=ARhzzZu6QWs
Sobre o making of Almoço na grama
Este vídeo é produção em consequência da oficina e experiência de caminhar na rua até um bosque muito lindo que fica na Rua Gomes Carneiro, no bairro Porto de Pelotas, num campo arborizado que se localiza quase na frente da entrada da Reitoria da Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Campus Anglo, na beira do canal São Gonçalo, em Pelotas, RS, Brasil.
A proposta surgiu de uma proposta que queria realizar há muito tempo, mas precisava de um grupo de pessoas para ajudar recriar o "Almoço na relva", Dejeuner Sur L'Herbe, do pintor Frances Eduard Manet neste sítio. A possibilidade de realizar a proposta veio com a Semana Acadêmica/Expresso Infância, organizada pelos alunos e alunas do Curso do Bacharelado em Artes Visuais da UFPel.
A oficina aconteceu no dia 12 de junho de 2019, a partir de 13h. Levamos sacolas e cestas com mantimentos para fazer um piquenique, com pão, e duas cucas de maçã quentinhas. Saímos, 16 pessoas, caminhando da frente do Centro de Artes na Rua Alberto Rosa, na zona do Porto de Pelotas, em direção à Reitoria, num percurso menos habitual, seguindo mais ou menos o canal São Gonçalo cuja vista está bloqueada pela construção de muros ao longo da área de armazéns do Porto.
Em meia hora, chegamos no bosque. Inicialmente, foi difícil achar um local para sentar ou colocar nossas coisas, a área estava coberta de vidros quebrados e lixo e queríamos colocar os cobertores no chão e arranjar a cena. Utilizando fotos impressas da pintura de Manet para localizar árvores e efeitos de luz no fundo que mais ou menos lembravam a cena pictórica feita numa época que ainda dava para visitar a mata sem ver lixo acumulado.
O objetivo destas imagens foi de mostrar o ato de comer neste local de extrema beleza, porém, uma beleza danificada, uma beleza natural que existe em relação a um devir humano constante; um vir-a-ser da natureza sujeitada ao vir-a-ser das transformações humanas, a mata sujeitada aos processos entrópicos de uma lógica insalubre onde cada progresso tem um efeito colateral de ruína em outro lugar onde não será vista....
Um quadro não é uma pintura
Fizemos as cenas, apropriando os cenários do fundo da pintura de Manet e imitando as poses das figuras humanas do quadro (observo que os procedimentos têm referência em Jeff Wall e Cindy Sherman). Recriamos o quadro, que não é uma "pintura", por não usar tinta, mas é um quadro de referências e um "enquadramento" - termo discutido na minha tese e que tem a ver com algo dito por Daniel Buren e sua noção de "moldura cultural".
Não queremos cobrir nenhuma superfície com tinta, não queremos esconder nada, nem fazer sugestões moralistas. Queremos, eu quero, mostrar o contraste deste lugar cheio de lixo na atualidade e o quadro de outrora e o potencial de ser muito mais, a potência de ser outro. Este lugar foi diferente no passado e meu olhar veja muito mais para nós. Temos o poder de mudar este quadro.
Além de fornecer referências culturais que questionam o descarte inadequado de lixo neste local, o quadro e registra um performance de "tableaux vivos" que imitam Manet (embora tal imitação não é uma "cópia" da cópia como a refotografia de Sherry Levine e seu "After Walker Evans" de 1981). As fotos que emergem da Oficina, na realidade, não reproduzem e nem citam Manet fielmente, mas usam seu quadro para fazer referências culturais, talvez seria melhor dizer, fazem uma paráfrase. As fotos da Oficina Almoço da Grama imitam as poses figurativas, mas não reproduzem o gênero das figuras representadas em Almoço na Relva de Manet (notando que a composição de Manet também cita uma gravura renascentista com um conjunto de figuras masculinas - e o fato de já ser uma citação é uma das razões para escolher este quadro em particular, subvertendo e cometendo um détournement, talvez, ao citar uma citação do tipo misprision).
As potências
Se este bosque lindo na frente da entrada da Reitoria da UFPel é cheio de lixo é porque queremos que esteja assim. O que existe no mundo como devir humanizante somente existe pela vontade de potência deste devir. Somente um desejo muito forte e incontrolável poderia produzir e reproduzir tal bosque, pois, cada vez que o limpam, volta a ficar cheio novamente. O devir humanizante pode produzir um vir-a-ser que contradiz a vir-a-ser da natureza que é o devir de nosso corpo - e que deveria ser um devir em busca do corpo saudável e que permita os devires dos corpos sociais e não negar a atualidade.
Uma pessoa deixou uma sacola, depois outra, depois outra. Há uma vontade individual e coletiva envolvida na criação desta bagunça.
Nossa vontade incontrolável de conquistar as coisas que queremos, de ter mais ou ser melhor, de querer uma coisa tanta que, no processo de conquistar o que mais queremos, acabamos produzindo outro efeito colateral impensável e impensada, um mundo cheio e inoperável, não respirável que impossibilita tomar tomar um banho na Lagoa dos Patos ou ser o que somos. Não há um único jeito.
Disse Nietzsche:
E sabeis… o que é pra mim o mundo?… Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força… uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou rendimento,… mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,… eternamente mudando, eternamente recorrentes… partindo do mais simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez… esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade… Esse mundo é a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso!”
– Nietzsche, Fragmento Póstumo
citando Nietzsche do site de Razão inadequada: https://razaoinadequada.com/2013/07/15/nietzsche-vontade-de-potencia/
Depois da sessão, surgiu outros momentos espontâneos. Dançando o quadro de Matisse...o resgate da infância, quem entendeu mais do que Matisse? Comunhão, liberdade de celebrar o sermos e estarmos. Linda experiência.
Realização:
Produção do projeto de extensão Contextos de Atuação do Artista (Centro de Artes/UFPel)
vinculado ao
projeto de pesquisa Sobras do Cotidiano e contextos do artista em Deslocamento
do Grupo de Pesquisa DeslOCC_Deslocamentos, observâncias e cartografias contemporâneas CNPq/UFPel.
Notícia sobre Semana Acadêmica, disponível em: https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2019/05/13/artes-visuais-realizam-semana-academica-em-junho/
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